Consejern define ações para o Sisjern. Próxima edição será em Martins
- sexta-feira, 20 de dezembro de 2013.
Os trabalhadores do Judiciário Potiguar, reunidos em seu 1º Congresso, nos dias 13, 14 e 15 de dezembro de 2013, aprovaram - sem votos contrários - a filiação do Sisjern - sindicato da categoria - à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Aprovaram também, por unanimidade, a realização, por parte do Sisjern, de cursos de formação política e de análise de conjuntura, de forma a qualificar politicamente a base sindical da entidade.
O engajamento - junto com os demais Movimentos Sociais - no Movimento "Fora Rosalba" e a realização de atos artístico-culturais com o "objetivo de conquistar os corações e as mentes dos trabalhadores do Judiciário Potiguar para a construção de uma sociedade justa e igualitária", bem como a realização de debates junto aos sindicalizados sobre o Documento 319 do Banco Mundial, também foram deliberações unânimes dos congressistas.
O 1º Congresso dos Servidores do Judiciário do Rio Grande do Norte (Consejern) ocorreu no Mardunas Centro de Eventos, na cidade de São José de Mipibu.
Todas as proposições aclamadas constavam na única tese inscrita para os debates sobre Judiciário, Conjuntura Política e Movimento Sindical. O documento - com 26 signatários - aborda a Crise Mundial do Capitalismo, o Documento 319 do Banco Mundial, a Conjuntura Nacional, o CNJ e os Tribunais Superiores e a PEC 59/13 (antiga 190/07), que tramita no Senado e que visa criação de um Estatuto Único dos Servidores do Judiciário. "Com a clara intenção de reformar o Judiciário para atender a demanda do poder econômico e deixá-lo a serviço do grande capital internacional, das grandes empresas nacionais e transnacionais e da propriedade privada, o Banco Mundial emite o Documento 319", diz um trecho da tese.
"Aprovamos aqui o eixo de ação do Sisjern para o próximo ano, tendo a filiação à CUT, grande importância, não só pelo histórico de luta desta entidade, mas também porque esta Central têm sido grande parceira na luta pela aprovação da PEC 59/13", disse Bernardo Fonseca, dirigente do Sisjern e signatário da tese.
Estatuto
A Plenária Final do Consejern apreciou também propostas de alterações do Estatuto do Sisjern, constantes em duas teses - a 01, com 26 signatários, e a 02, com 20. A tese 01 propôs - e foi aprovada - a recomposição salarial para dirigentes do Sindicato, paga pelo Sisjern, quando a liberação sindical implicar em perdas financeiras.
Propôs também - não recebendo voto contra - a cobrança de inscrições no próximo Consejern, ficando o Sisjern obrigado a devolver o valor integral aos que não faltarem ao Congresso, que será, por decisão da Plenária, na cidade de Martins. Os presentes também aprovaram a proposta da tese 01 que suprime mês preferencial para realização do evento.
A tese 02 propôs - e a plenária aprovou - mais competências relacionadas à saúde para a Diretoria de Aposentados e Pensionistas que, com o aperfeiçoamento da plenária, passou a chamar-se Diretoria de Seguridade Social.
Abertura
O Consejern foi aberto na noite da sexta-feira, dia 13, numa solenidade que contou com a presença de Valter Macêdo, Presidente da Federação Nacional dos Servidores do Judiciário nos Estados (Fenajud) e de Alto Clemente Filho, Presidente do Sindicato dos Servidores do MPE/RN (Sindsempe/RN), além de Bernardo Fonseca, Diretor-coordenador do Sisjern - os três compondo a mesa de abertura.
Em seguida, a Conferência de Abertura, sob o tema "Identidade de Classe do Trabalhador do Judiciário", proferida pelo Médico e Doutor em Saúde Pública, Herval Pina Ribeiro, professor-colaborador da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, autor de pesquisas na área de saúde do trabalhador, especialmente, nos últimos anos, de saúde do trabalhador do Judiciário, sempre as relacionando as transformações capitalistas.
Herval, entusiasta do método Paulo Freire, dispensou o uso da mesa e se misturou aos presentes - para Freire a mesa é um símbolo de poder que desequilibra a relação de troca. O médico apresentou slides, os quais foram lidos por pessoas da platéia, espontaneamente. Em seguida, os presentes ficaram a vontade para falar o que quisessem. "Os estados de saúde das populações de trabalhadores estão intimamente ligados às relações sociais do trabalho e à consciência de classe", dizia o primeiro slide.
Outro trecho da apresentação dizia: "As relações sociais do trabalho nas sociedades de classes sempre foram autoritárias e não raro explicitamente violentas. Mudam para melhor quando são empurradas pela força organizada dos que produzem; ou (...) pioram dado ao enfraquecimento político dos sindicatos (...). Para levá-los adiante é preciso caminhar para além do corporativismo."
Para Herval, são necessárias ações antecipatórias aos agravos do trabalho no Judiciário, ajustadas a cada unidade de serviços, pois precisam ter capilaridade, ir onde os agravos ocorrem. "É preciso que os trabalhadores estejam organizados no local de trabalho e a forma de organizar-se ainda segue sendo o sindicato", disse.
Justiça, Mídia e Direitos Humanos
No dia seguinte, pela manhã, a Mesa "Justiça, Mídia e Direitos Humanos, contou com as presenças de Daniel Pessoa e Rosivaldo Toscano Jr. O primeiro é Advogado, Assessor Jurídico do Sisjern, Mestre em Direito Constitucional e Membro da Rede Nacional de Advogados Populares (Renap). O outro é Magistrado no Judiciário Potiguar, mestrando em Direito e Membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD). O Jornalista Paulo Victor de Melo, de Sergipe, que seria o terceiro membro da mesa, por razões de força maior, não pôde comparecer.
Toscano iniciou sua apresentação mostrando um vídeo de uma reportagem apresentada em um telejornal da RBS TV, rede regional de emissoras afiliada à Rede Globo, no Rio Grande do Sul.
A matéria mostrava Elenir - o homem-tartaruga - um morador de rua, catador de lixo, que construiu uma casa ambulante, encima de uma pequena carroça, que ele puxa pelas ruas de Porto Alegre. O repórter apresenta Elenir com alguém criativo e feliz, com o pouco que tem.
Para o magistrado, trata-se de um caso de violência estrutural, sistêmica e subjetiva, naturalizada pela mídia. "A mídia é produtora - e não reprodutora - de realidade", afirmou.
Rosivaldo Jr disse também que as metas de eficiência vêm do Consenso de Washington - receituário do FMI criado ao final dos anos 80 para aplicação em países com dificuldades financeiras, de forma a proteger direitos privados, e não os direitos sociais. Para o magistrado, o eficienticismo ocupou o lugar da normatividade no Judiciário, implicando em violência aos Direitos Humanos - com os magistrados, os trabalhadores do Judiciário e a própria população. "O Judiciário foi reformado, mas não foi democratizado", disse.
Em seguida, Daniel Pessoa abordou a transversalidade dos Direitos Humanos à sociedade. O advogado citou fóruns internacionais de Direitos Humanos, nos quais a Mídia e o Judiciário - inclusos aí, os trabalhadores do Judiciário - são citados com elementos importantes.
Pessoa disse também que apesar do oligopólio midiático - seis famílias dominam a comunicação no país - ser responsável também pela não expansão dos Direitos Humanos, tentar inserir mensagens em suas programações é importante, além do uso de mídias alternativas. "Temos que trabalhar numa perspectiva ampla - além da Justiça e da Mídia - ou seja, da sociedade, onde estes dois elementos, além de outros, estão inseridos", disse.
Sindicalismo e Mundo do Trabalho
A mesa seguinte, ainda pela manhã, com as presenças de Herval Pina Ribeiro, Expedito Solaney e Renan Araujo, discutiu o tema "Sindicalismo e Mundo do Trabalho". O primeiro fora o conferencista de abertura. O segundo é Bancário, Cientista Social e Membro da Executiva Nacional da CUT. O último é Historiador, Doutor em Sociologia do Trabalho e Professor da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Araujo iniciou sua fala afirmando que a reestruturação produtiva capitalista afetou a composição da classe trabalhadora, pois, com as novas tecnologias e formas de gestão, houve uma metamorfose entre os assalariados. Para ele, as mudanças trazidas com o toyotismo, através do just in time, expressão cunhada por Taiichi Ohno, engenheiro da Toyota, após a 2ª Guerra Mundial - trouxeram, entre outras coisas, estranhamento dos trabalhadores em relação à própria afetividade e sensibilidade, "pondo-os em permanente disputa, uns com os outros, e tendo forte impacto negativo na organização sindical", disse.
Os trabalhadores do Judiciário não são produtores de riquezas, razão pela qual, Renan afirmou tratar-se, no capitalismo, de gasto público. "Na economia financeirizada contemporânea, onde boa parte do orçamento é para pagamento de juros da dívida pública, os trabalhadores não produtores de riquezas são alvos de cortes", ressaltou.
Para o professor, o Judiciário tem cultura de poder própria e histórica, oriunda o patrimonialismo e do paternalismo, componentes constantes na base da formação do Brasil. "As estruturas das comarcas, dos tribunais, são do Brasil colônia", disse.
"Para enfrentar os problemas, vocês têm que participar do Sindicato e ir além do Judiciário, pensar numa perspectiva de classe", concluiu.
Na sequência, Expedito Solaney relacionou o tema ao debate anterior, lembrando que os direitos dos trabalhadores são direitos humanos. Lembrou que é importante organizar-se no sindicato para enfrentar o capitalismo contemporâneo. "Lenin dizia que o Sindicato é uma escola de socialismo e é verdade. Só estamos aqui discutindo, por que o Sisjern convocou sua base e fez o Consejern", enfatizou.
Disse também que a representação sindical está em crise não só pela sanha do capital, mas também pelo poder dos Meios de Comunicação de Massa. Tal crise teve inicio, informou Solaney, nos governos Margaret Thatcher e Ronald Reagan, no Reino Unido e nos EUA, respectivamente, quando, entre outras coisas, estes governos partiram para forte repressão aos sindicatos.
Para o cutista, quando a representação sindical não existe, os contratos coletivos de trabalho perdem força e passa a ter vez, as negociações bilaterais, situação na qual o capital se fortalece e o trabalho perde força.
Segundo ele, um contrato coletivo nacional, nos moldes do que faz hoje os bancários, é importante para o fortalecimento dos trabalhadores. Neste sentido, Solaney entende ser a PEC 59/13, um importante instrumento de unificação das lutas dos trabalhadores do Judiciário em todo o país. "A CUT tem acompanhado este debate e, mais, tem ajudado o Sisjern e a Fenajud", lembrou.
Por fim, ele fez um pequeno histórico das lutas sindicais brasileiras. Começando pelo anarcosindicalismo, depois pela COB, passando pelo Sindicalismo de estado de Getulio Vargas, pelo golpe militar e pelo Novo Sindicalismo, surgido nas greves do ABC paulista e que deu origem a CUT.
"A solução dos problemas humanos não está na técnica, está na política." Foi com esta frase que Herval Pina Ribeiro começou sua explanação.
Em seguida, ele falou da importância do uso do tempo no capitalismo, afirmando que os trabalhadores nas grandes metrópoles passam horas dentro dos ônibus e não são remunerados por isso. "O capital controla tão bem o tempo, que programa de TV não atrasa", frisou.
O médico disse também que o Estado Burguês não é de direito e que "não há um mínimo de humanidade no capitalismo, se não forem as forças do trabalho transformando-o".
Ambos os debates tiveram forte participação da platéia, em função de um microfone - disponibilizado pela organização do Congresso - ter circulado pelas cadeiras, para que os presentes se manifestassem.
Cultura
O 1º Festival Cultural do Sisjern, ocorrido dentro do Consejern, teve sua primeira atividade na sexta-feira, dia 13, depois da Conferência de Herval Pina Ribeiro, quando foi apresentado um espetáculo de musica, teatro e dança em homenagem a Vinicius de Morais.
Na noite seguinte, um Alto de Natal, seguido de música, show de calouros e mural poético. Os artistas envolvidos eram, em sua maioria, sindicalizados ao Sisjern.
"A arte é fundamental aos processos de transformações. O que vocês fizeram aqui é muito importante", disse o Professor Renan Araujo, palestrante do evento.
Convidados
Representantes de outras entidades sindicais estiveram presentes no Consejern - em todo o evento ou em parte dele. Ada Monteiro, dirigente do Sindicato dos Servidores do Judiciário do Espírito Santo (Sindjudiciário/ES), foi uma destas. José Ivonaldo Batista, da Associação de Técnicos, Auxiliares e Analistas Judiciários da Paraíba (Astaj) também. Ari dos Santos, da CUT/RN, elogiou bastante os debates que viu. Valter Macêdo, da Fenajud, fez o mesmo. Aldo Clemente FIlho, do Sindicato dos Servidores do MPE/RN (Sindsempe/RN), também esteve no Consejern."Os debates aqui foram de alto nível", disse a sindicalista capixaba. "Presenciei aqui um grande Congresso", afirmou o presidente da Fenajud.
Palestrantes também falaram sobre o Consejern. "Um bom congresso não precisa necessariamente ter um grande público. Precisa ser produtivo. Este o foi. Dos congressistas aos que nele trabalharam, todos o abraçaram", disse Herval Pina Ribeiro. Dos 89 inscritos no Consejern, 51 compareceram. "O Consejern está sendo um bom momento de reflexão e também de aproximação entre as pessoas", comentou Rosivaldo Toscano Jr. Já Renan Araujo afirmou a necessidade de relativização quando se falar em crise sindical. "Vejo aqui o oposto: a possibilidade de inflexão da trajetória do Movimento Sindical, de forma a superar as ações típicas dos sindicatos corporativos", ressaltou.
Rudson Pinheiro Soares - Jornalista
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O engajamento - junto com os demais Movimentos Sociais - no Movimento "Fora Rosalba" e a realização de atos artístico-culturais com o "objetivo de conquistar os corações e as mentes dos trabalhadores do Judiciário Potiguar para a construção de uma sociedade justa e igualitária", bem como a realização de debates junto aos sindicalizados sobre o Documento 319 do Banco Mundial, também foram deliberações unânimes dos congressistas.
O 1º Congresso dos Servidores do Judiciário do Rio Grande do Norte (Consejern) ocorreu no Mardunas Centro de Eventos, na cidade de São José de Mipibu.
Todas as proposições aclamadas constavam na única tese inscrita para os debates sobre Judiciário, Conjuntura Política e Movimento Sindical. O documento - com 26 signatários - aborda a Crise Mundial do Capitalismo, o Documento 319 do Banco Mundial, a Conjuntura Nacional, o CNJ e os Tribunais Superiores e a PEC 59/13 (antiga 190/07), que tramita no Senado e que visa criação de um Estatuto Único dos Servidores do Judiciário. "Com a clara intenção de reformar o Judiciário para atender a demanda do poder econômico e deixá-lo a serviço do grande capital internacional, das grandes empresas nacionais e transnacionais e da propriedade privada, o Banco Mundial emite o Documento 319", diz um trecho da tese.
"Aprovamos aqui o eixo de ação do Sisjern para o próximo ano, tendo a filiação à CUT, grande importância, não só pelo histórico de luta desta entidade, mas também porque esta Central têm sido grande parceira na luta pela aprovação da PEC 59/13", disse Bernardo Fonseca, dirigente do Sisjern e signatário da tese.
Estatuto
A Plenária Final do Consejern apreciou também propostas de alterações do Estatuto do Sisjern, constantes em duas teses - a 01, com 26 signatários, e a 02, com 20. A tese 01 propôs - e foi aprovada - a recomposição salarial para dirigentes do Sindicato, paga pelo Sisjern, quando a liberação sindical implicar em perdas financeiras.
Propôs também - não recebendo voto contra - a cobrança de inscrições no próximo Consejern, ficando o Sisjern obrigado a devolver o valor integral aos que não faltarem ao Congresso, que será, por decisão da Plenária, na cidade de Martins. Os presentes também aprovaram a proposta da tese 01 que suprime mês preferencial para realização do evento.
A tese 02 propôs - e a plenária aprovou - mais competências relacionadas à saúde para a Diretoria de Aposentados e Pensionistas que, com o aperfeiçoamento da plenária, passou a chamar-se Diretoria de Seguridade Social.
Abertura
O Consejern foi aberto na noite da sexta-feira, dia 13, numa solenidade que contou com a presença de Valter Macêdo, Presidente da Federação Nacional dos Servidores do Judiciário nos Estados (Fenajud) e de Alto Clemente Filho, Presidente do Sindicato dos Servidores do MPE/RN (Sindsempe/RN), além de Bernardo Fonseca, Diretor-coordenador do Sisjern - os três compondo a mesa de abertura.
Em seguida, a Conferência de Abertura, sob o tema "Identidade de Classe do Trabalhador do Judiciário", proferida pelo Médico e Doutor em Saúde Pública, Herval Pina Ribeiro, professor-colaborador da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, autor de pesquisas na área de saúde do trabalhador, especialmente, nos últimos anos, de saúde do trabalhador do Judiciário, sempre as relacionando as transformações capitalistas.
Herval, entusiasta do método Paulo Freire, dispensou o uso da mesa e se misturou aos presentes - para Freire a mesa é um símbolo de poder que desequilibra a relação de troca. O médico apresentou slides, os quais foram lidos por pessoas da platéia, espontaneamente. Em seguida, os presentes ficaram a vontade para falar o que quisessem. "Os estados de saúde das populações de trabalhadores estão intimamente ligados às relações sociais do trabalho e à consciência de classe", dizia o primeiro slide.
Outro trecho da apresentação dizia: "As relações sociais do trabalho nas sociedades de classes sempre foram autoritárias e não raro explicitamente violentas. Mudam para melhor quando são empurradas pela força organizada dos que produzem; ou (...) pioram dado ao enfraquecimento político dos sindicatos (...). Para levá-los adiante é preciso caminhar para além do corporativismo."
Para Herval, são necessárias ações antecipatórias aos agravos do trabalho no Judiciário, ajustadas a cada unidade de serviços, pois precisam ter capilaridade, ir onde os agravos ocorrem. "É preciso que os trabalhadores estejam organizados no local de trabalho e a forma de organizar-se ainda segue sendo o sindicato", disse.
Justiça, Mídia e Direitos Humanos
No dia seguinte, pela manhã, a Mesa "Justiça, Mídia e Direitos Humanos, contou com as presenças de Daniel Pessoa e Rosivaldo Toscano Jr. O primeiro é Advogado, Assessor Jurídico do Sisjern, Mestre em Direito Constitucional e Membro da Rede Nacional de Advogados Populares (Renap). O outro é Magistrado no Judiciário Potiguar, mestrando em Direito e Membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD). O Jornalista Paulo Victor de Melo, de Sergipe, que seria o terceiro membro da mesa, por razões de força maior, não pôde comparecer.
Toscano iniciou sua apresentação mostrando um vídeo de uma reportagem apresentada em um telejornal da RBS TV, rede regional de emissoras afiliada à Rede Globo, no Rio Grande do Sul.
A matéria mostrava Elenir - o homem-tartaruga - um morador de rua, catador de lixo, que construiu uma casa ambulante, encima de uma pequena carroça, que ele puxa pelas ruas de Porto Alegre. O repórter apresenta Elenir com alguém criativo e feliz, com o pouco que tem.
Para o magistrado, trata-se de um caso de violência estrutural, sistêmica e subjetiva, naturalizada pela mídia. "A mídia é produtora - e não reprodutora - de realidade", afirmou.
Rosivaldo Jr disse também que as metas de eficiência vêm do Consenso de Washington - receituário do FMI criado ao final dos anos 80 para aplicação em países com dificuldades financeiras, de forma a proteger direitos privados, e não os direitos sociais. Para o magistrado, o eficienticismo ocupou o lugar da normatividade no Judiciário, implicando em violência aos Direitos Humanos - com os magistrados, os trabalhadores do Judiciário e a própria população. "O Judiciário foi reformado, mas não foi democratizado", disse.
Em seguida, Daniel Pessoa abordou a transversalidade dos Direitos Humanos à sociedade. O advogado citou fóruns internacionais de Direitos Humanos, nos quais a Mídia e o Judiciário - inclusos aí, os trabalhadores do Judiciário - são citados com elementos importantes.
Pessoa disse também que apesar do oligopólio midiático - seis famílias dominam a comunicação no país - ser responsável também pela não expansão dos Direitos Humanos, tentar inserir mensagens em suas programações é importante, além do uso de mídias alternativas. "Temos que trabalhar numa perspectiva ampla - além da Justiça e da Mídia - ou seja, da sociedade, onde estes dois elementos, além de outros, estão inseridos", disse.
Sindicalismo e Mundo do Trabalho
A mesa seguinte, ainda pela manhã, com as presenças de Herval Pina Ribeiro, Expedito Solaney e Renan Araujo, discutiu o tema "Sindicalismo e Mundo do Trabalho". O primeiro fora o conferencista de abertura. O segundo é Bancário, Cientista Social e Membro da Executiva Nacional da CUT. O último é Historiador, Doutor em Sociologia do Trabalho e Professor da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Araujo iniciou sua fala afirmando que a reestruturação produtiva capitalista afetou a composição da classe trabalhadora, pois, com as novas tecnologias e formas de gestão, houve uma metamorfose entre os assalariados. Para ele, as mudanças trazidas com o toyotismo, através do just in time, expressão cunhada por Taiichi Ohno, engenheiro da Toyota, após a 2ª Guerra Mundial - trouxeram, entre outras coisas, estranhamento dos trabalhadores em relação à própria afetividade e sensibilidade, "pondo-os em permanente disputa, uns com os outros, e tendo forte impacto negativo na organização sindical", disse.
Os trabalhadores do Judiciário não são produtores de riquezas, razão pela qual, Renan afirmou tratar-se, no capitalismo, de gasto público. "Na economia financeirizada contemporânea, onde boa parte do orçamento é para pagamento de juros da dívida pública, os trabalhadores não produtores de riquezas são alvos de cortes", ressaltou.
Para o professor, o Judiciário tem cultura de poder própria e histórica, oriunda o patrimonialismo e do paternalismo, componentes constantes na base da formação do Brasil. "As estruturas das comarcas, dos tribunais, são do Brasil colônia", disse.
"Para enfrentar os problemas, vocês têm que participar do Sindicato e ir além do Judiciário, pensar numa perspectiva de classe", concluiu.
Na sequência, Expedito Solaney relacionou o tema ao debate anterior, lembrando que os direitos dos trabalhadores são direitos humanos. Lembrou que é importante organizar-se no sindicato para enfrentar o capitalismo contemporâneo. "Lenin dizia que o Sindicato é uma escola de socialismo e é verdade. Só estamos aqui discutindo, por que o Sisjern convocou sua base e fez o Consejern", enfatizou.
Disse também que a representação sindical está em crise não só pela sanha do capital, mas também pelo poder dos Meios de Comunicação de Massa. Tal crise teve inicio, informou Solaney, nos governos Margaret Thatcher e Ronald Reagan, no Reino Unido e nos EUA, respectivamente, quando, entre outras coisas, estes governos partiram para forte repressão aos sindicatos.
Para o cutista, quando a representação sindical não existe, os contratos coletivos de trabalho perdem força e passa a ter vez, as negociações bilaterais, situação na qual o capital se fortalece e o trabalho perde força.
Segundo ele, um contrato coletivo nacional, nos moldes do que faz hoje os bancários, é importante para o fortalecimento dos trabalhadores. Neste sentido, Solaney entende ser a PEC 59/13, um importante instrumento de unificação das lutas dos trabalhadores do Judiciário em todo o país. "A CUT tem acompanhado este debate e, mais, tem ajudado o Sisjern e a Fenajud", lembrou.
Por fim, ele fez um pequeno histórico das lutas sindicais brasileiras. Começando pelo anarcosindicalismo, depois pela COB, passando pelo Sindicalismo de estado de Getulio Vargas, pelo golpe militar e pelo Novo Sindicalismo, surgido nas greves do ABC paulista e que deu origem a CUT.
"A solução dos problemas humanos não está na técnica, está na política." Foi com esta frase que Herval Pina Ribeiro começou sua explanação.
Em seguida, ele falou da importância do uso do tempo no capitalismo, afirmando que os trabalhadores nas grandes metrópoles passam horas dentro dos ônibus e não são remunerados por isso. "O capital controla tão bem o tempo, que programa de TV não atrasa", frisou.
O médico disse também que o Estado Burguês não é de direito e que "não há um mínimo de humanidade no capitalismo, se não forem as forças do trabalho transformando-o".
Ambos os debates tiveram forte participação da platéia, em função de um microfone - disponibilizado pela organização do Congresso - ter circulado pelas cadeiras, para que os presentes se manifestassem.
Cultura
O 1º Festival Cultural do Sisjern, ocorrido dentro do Consejern, teve sua primeira atividade na sexta-feira, dia 13, depois da Conferência de Herval Pina Ribeiro, quando foi apresentado um espetáculo de musica, teatro e dança em homenagem a Vinicius de Morais.
Na noite seguinte, um Alto de Natal, seguido de música, show de calouros e mural poético. Os artistas envolvidos eram, em sua maioria, sindicalizados ao Sisjern.
"A arte é fundamental aos processos de transformações. O que vocês fizeram aqui é muito importante", disse o Professor Renan Araujo, palestrante do evento.
Convidados
Representantes de outras entidades sindicais estiveram presentes no Consejern - em todo o evento ou em parte dele. Ada Monteiro, dirigente do Sindicato dos Servidores do Judiciário do Espírito Santo (Sindjudiciário/ES), foi uma destas. José Ivonaldo Batista, da Associação de Técnicos, Auxiliares e Analistas Judiciários da Paraíba (Astaj) também. Ari dos Santos, da CUT/RN, elogiou bastante os debates que viu. Valter Macêdo, da Fenajud, fez o mesmo. Aldo Clemente FIlho, do Sindicato dos Servidores do MPE/RN (Sindsempe/RN), também esteve no Consejern."Os debates aqui foram de alto nível", disse a sindicalista capixaba. "Presenciei aqui um grande Congresso", afirmou o presidente da Fenajud.
Palestrantes também falaram sobre o Consejern. "Um bom congresso não precisa necessariamente ter um grande público. Precisa ser produtivo. Este o foi. Dos congressistas aos que nele trabalharam, todos o abraçaram", disse Herval Pina Ribeiro. Dos 89 inscritos no Consejern, 51 compareceram. "O Consejern está sendo um bom momento de reflexão e também de aproximação entre as pessoas", comentou Rosivaldo Toscano Jr. Já Renan Araujo afirmou a necessidade de relativização quando se falar em crise sindical. "Vejo aqui o oposto: a possibilidade de inflexão da trajetória do Movimento Sindical, de forma a superar as ações típicas dos sindicatos corporativos", ressaltou.
Rudson Pinheiro Soares - Jornalista
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