Pesquisa da Unb mostra agravamento das condições de saúde dos trabalhadores no Brasil
- terça-feira, 3 de setembro de 2024.
De acordo com dados do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia, em colaboração com pesquisadores de Harvard, a taxa de suicídio entre jovens no Brasil aumentou 6% ao ano durante os anos de 2011 e 2022. As notificações de autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos subiram 29% anualmente no mesmo período, e em 2022 as taxas de autolesões cresceram em todas as faixas etárias, dos 10 aos mais de 60 anos.
Conforme a Fiocruz, "Apesar da redução de 36% no número de suicídios em escala global, as Américas fizeram o caminho inverso. No período entre os anos 2000 e 2019, a região teve aumento de 17% nos casos. Nesse período, o número de casos no Brasil subiu 43%. Em relação aos casos de autolesões no Brasil, a pesquisa do Cidacs/Fiocruz constatou que, em 2022, houve aumento das taxas de notificação em grupos de todas as faixas etárias, desde os 10 aos mais de 60 anos".
A pesquisa também apresenta um dado alarmante quando cita os dados por raça e etnia no país. "As taxas de notificação aumentaram anualmente em todas as categorias - indígenas, pardos, descendentes de asiáticos, negros e brancos - com a população indígena apresentando o maior número, com mais de 100 casos por 100 mil pessoas.", aponta o documento.
Assim, o mês chega com um importante convite à reflexão e à ação: o Setembro Amarelo, que tem como foco aumentar a conscientização sobre a prevenção do suicídio e diminuir o estigma associado às doenças mentais.
Saúde Mental x Qualidade de Vida
Em entrevista para a Fenajud (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados), Emilio Peres Facas, professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília (UnB), explicou que "primeiramente, é preciso entender que essa separação entre uma 'saúde física' e uma 'saúde mental' pode até ser feita com um caráter puramente 'didático', mas saúde é uma só, afinal, é um mesmo corpo e uma mesma pessoa".
"Penso que é importante falarmos dos chamados aspectos mentais como parte indissociável da saúde como um todo. Desta forma, não há como se pensar uma vida com qualidade quando a saúde se encontra de qualquer forma fragilizada", destacou.
Sobre a importância do tema durante o Setembro Amarelo, o professor disse que a maior contribuição que esse tipo de campanha pode trazer é, "de alguma forma, desestigmatizar e desmistificar justamente essa ideia de que a saúde mental é algo ligado ao senso de loucura, apartado do corpo e difícil de compreender".
De acordo com o Emilio Peres, "pesquisas realizadas no Laboratório de Trabalho e Linguagem da Universidade de Brasília, nos últimos 10 anos, mostram que o processo de agravamento das condições de saúde e vida de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil, e aqui insere-se a saúde mental, está relacionado especialmente às formas de gestão e organização dos diferentes contextos de trabalho e a um consequente esgotamento mental das pessoas".
"De forma global, esse esgotamento se relaciona a práticas de gestão produtivistas, que se pautam pelo controle excessivo do trabalho, centralização de decisões em gestores, determinação de metas irreais (tanto em quantidade quanto em prazo para execução) e cobranças irreais de produção. Esse modo de gestão do trabalho tem levado os(as) trabalhadores(as) a sentirem-se injustiçados(as), desanimados(as), insatisfeitos(as) e/ou desgastados(as) com seu trabalho, o que leva paulatinamente a um quadro de adoecimento", completou.
Ele também ressaltou que as Redes Sociais também precisam ser consideradas: "Temos avanços tecnológicos que geram um estado de hipervigilância e hiper disponibilidade. Os aplicativos de mensagens instantâneas, por exemplo, romperam de vez com a fronteira entre um tempo no trabalho e o tempo fora do trabalho".
Práticas Preventivas
No caso das chamadas "práticas preventivas", o professor da UnB explicou que não existe uma "receita pronta, mas alguns caminhos são importantes": "Primeiramente, é preciso que as organizações reconheçam os(as) trabalhadores(as) como pessoas, assim, dotados de uma história de vida, de condições sociais e históricas, de sentimentos. São essas pessoas que fazem e conhecem o trabalho, logo, elas possuem contribuições importantes para pensar os processos de trabalho. Isso demanda abertura por parte das chefias para escutar/negociar e mudar os processos de gestão das atividades".
"Em segundo lugar, é importante que as organizações procurem pensar o que, em cada contexto de trabalho, pode estar impactando de forma negativa na saúde das pessoas. Aqui, trata-se de parar de pensar as questões de saúde no trabalho como algo externo às organizações. O que temos percebido nas pesquisas é que muitas das ditas 'práticas em saúde mental' nas organizações não se relacionam diretamente com o processo de trabalho. Para tentar simplificar: não adianta colocar uma mesa de ping-pong ou fazer um dia de vestimenta informal no escritório se a gestão continua sendo feita sob pressão, com cobrança exacerbada por produção e, em muitos casos, com atos de violência moral", apontou.
"Em um nível mais social, é importante reestabelecer os laços de confiança e solidariedade entre as pessoas, o que tem sido cada vez mais difícil em um mundo dominado por relações aceleradas, agravadas pela lógica algorítmica da vida. Buscar ajuda e apoio demanda as pessoas perceberem que existe uma dificuldade. Contudo, destaco novamente que ainda existem muitos estigmas relacionados às questões de saúde mental: as pessoas sentem-se envergonhadas, julgadas e, infelizmente, muitas vezes são ridicularizadas por sua condição. De toda forma, é importante destacar que as pessoas procurem ajuda profissional caso percebam essas dificuldades" afirmou Facas.
Observando os sinais
De acordo com o Ministério da Saúde, o suicídio é um fenômeno complexo que pode afetar pessoas de diferentes origens, idades e identidades. Embora não haja uma fórmula exata para identificar uma crise suicida, reconhecer sinais de alerta é essencial. Para o órgão, "indivíduos em sofrimento podem apresentar comportamentos como preocupação excessiva com a morte, falta de esperança, e manifestações verbais ou escritas sobre suicídio. Comentários como "Vou desaparecer" ou "Eu queria poder dormir e nunca mais acordar" são sinais que não devem ser ignorados".
"Além disso, pessoas com pensamentos suicidas podem se isolar, evitando contato social e reduzindo atividades que antes apreciavam. Fatores como exposição a estressores como agrotóxicos, perda de emprego, crises econômicas e discriminação também podem aumentar o risco. É crucial estar atento a esses sinais e fatores de vulnerabilidade para oferecer suporte e buscar ajuda quando necessário." ressaltam.
Setembro Amarelo
O Setembro Amarelo é um momento crucial para intensificar a conscientização e a prevenção do suicídio, promovendo a saúde mental e o apoio mútuo. Neste mês, a Fenajud e seus sindicatos filiados se unem à causa, instituída em 2014 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), com uma campanha especial com o slogan "A DOR É SILENCIOSA - OUÇA. APOIE - Setembro Amarelo, em apoio àqueles que sofrem silenciosamente", onde irá disseminar informações, oferecer suporte e fortalecer a rede de apoio emocional.
Juntos, podemos fazer a diferença e garantir que a mensagem de esperança e solidariedade alcance todos que precisam.
Assessoria SindJustiçaRN, com Fenajud
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Conforme a Fiocruz, "Apesar da redução de 36% no número de suicídios em escala global, as Américas fizeram o caminho inverso. No período entre os anos 2000 e 2019, a região teve aumento de 17% nos casos. Nesse período, o número de casos no Brasil subiu 43%. Em relação aos casos de autolesões no Brasil, a pesquisa do Cidacs/Fiocruz constatou que, em 2022, houve aumento das taxas de notificação em grupos de todas as faixas etárias, desde os 10 aos mais de 60 anos".
A pesquisa também apresenta um dado alarmante quando cita os dados por raça e etnia no país. "As taxas de notificação aumentaram anualmente em todas as categorias - indígenas, pardos, descendentes de asiáticos, negros e brancos - com a população indígena apresentando o maior número, com mais de 100 casos por 100 mil pessoas.", aponta o documento.
Assim, o mês chega com um importante convite à reflexão e à ação: o Setembro Amarelo, que tem como foco aumentar a conscientização sobre a prevenção do suicídio e diminuir o estigma associado às doenças mentais.
Saúde Mental x Qualidade de Vida
Em entrevista para a Fenajud (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados), Emilio Peres Facas, professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília (UnB), explicou que "primeiramente, é preciso entender que essa separação entre uma 'saúde física' e uma 'saúde mental' pode até ser feita com um caráter puramente 'didático', mas saúde é uma só, afinal, é um mesmo corpo e uma mesma pessoa".
"Penso que é importante falarmos dos chamados aspectos mentais como parte indissociável da saúde como um todo. Desta forma, não há como se pensar uma vida com qualidade quando a saúde se encontra de qualquer forma fragilizada", destacou.
Sobre a importância do tema durante o Setembro Amarelo, o professor disse que a maior contribuição que esse tipo de campanha pode trazer é, "de alguma forma, desestigmatizar e desmistificar justamente essa ideia de que a saúde mental é algo ligado ao senso de loucura, apartado do corpo e difícil de compreender".
De acordo com o Emilio Peres, "pesquisas realizadas no Laboratório de Trabalho e Linguagem da Universidade de Brasília, nos últimos 10 anos, mostram que o processo de agravamento das condições de saúde e vida de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil, e aqui insere-se a saúde mental, está relacionado especialmente às formas de gestão e organização dos diferentes contextos de trabalho e a um consequente esgotamento mental das pessoas".
"De forma global, esse esgotamento se relaciona a práticas de gestão produtivistas, que se pautam pelo controle excessivo do trabalho, centralização de decisões em gestores, determinação de metas irreais (tanto em quantidade quanto em prazo para execução) e cobranças irreais de produção. Esse modo de gestão do trabalho tem levado os(as) trabalhadores(as) a sentirem-se injustiçados(as), desanimados(as), insatisfeitos(as) e/ou desgastados(as) com seu trabalho, o que leva paulatinamente a um quadro de adoecimento", completou.
Ele também ressaltou que as Redes Sociais também precisam ser consideradas: "Temos avanços tecnológicos que geram um estado de hipervigilância e hiper disponibilidade. Os aplicativos de mensagens instantâneas, por exemplo, romperam de vez com a fronteira entre um tempo no trabalho e o tempo fora do trabalho".
Práticas Preventivas
No caso das chamadas "práticas preventivas", o professor da UnB explicou que não existe uma "receita pronta, mas alguns caminhos são importantes": "Primeiramente, é preciso que as organizações reconheçam os(as) trabalhadores(as) como pessoas, assim, dotados de uma história de vida, de condições sociais e históricas, de sentimentos. São essas pessoas que fazem e conhecem o trabalho, logo, elas possuem contribuições importantes para pensar os processos de trabalho. Isso demanda abertura por parte das chefias para escutar/negociar e mudar os processos de gestão das atividades".
"Em segundo lugar, é importante que as organizações procurem pensar o que, em cada contexto de trabalho, pode estar impactando de forma negativa na saúde das pessoas. Aqui, trata-se de parar de pensar as questões de saúde no trabalho como algo externo às organizações. O que temos percebido nas pesquisas é que muitas das ditas 'práticas em saúde mental' nas organizações não se relacionam diretamente com o processo de trabalho. Para tentar simplificar: não adianta colocar uma mesa de ping-pong ou fazer um dia de vestimenta informal no escritório se a gestão continua sendo feita sob pressão, com cobrança exacerbada por produção e, em muitos casos, com atos de violência moral", apontou.
"Em um nível mais social, é importante reestabelecer os laços de confiança e solidariedade entre as pessoas, o que tem sido cada vez mais difícil em um mundo dominado por relações aceleradas, agravadas pela lógica algorítmica da vida. Buscar ajuda e apoio demanda as pessoas perceberem que existe uma dificuldade. Contudo, destaco novamente que ainda existem muitos estigmas relacionados às questões de saúde mental: as pessoas sentem-se envergonhadas, julgadas e, infelizmente, muitas vezes são ridicularizadas por sua condição. De toda forma, é importante destacar que as pessoas procurem ajuda profissional caso percebam essas dificuldades" afirmou Facas.
Observando os sinais
De acordo com o Ministério da Saúde, o suicídio é um fenômeno complexo que pode afetar pessoas de diferentes origens, idades e identidades. Embora não haja uma fórmula exata para identificar uma crise suicida, reconhecer sinais de alerta é essencial. Para o órgão, "indivíduos em sofrimento podem apresentar comportamentos como preocupação excessiva com a morte, falta de esperança, e manifestações verbais ou escritas sobre suicídio. Comentários como "Vou desaparecer" ou "Eu queria poder dormir e nunca mais acordar" são sinais que não devem ser ignorados".
"Além disso, pessoas com pensamentos suicidas podem se isolar, evitando contato social e reduzindo atividades que antes apreciavam. Fatores como exposição a estressores como agrotóxicos, perda de emprego, crises econômicas e discriminação também podem aumentar o risco. É crucial estar atento a esses sinais e fatores de vulnerabilidade para oferecer suporte e buscar ajuda quando necessário." ressaltam.
Setembro Amarelo
O Setembro Amarelo é um momento crucial para intensificar a conscientização e a prevenção do suicídio, promovendo a saúde mental e o apoio mútuo. Neste mês, a Fenajud e seus sindicatos filiados se unem à causa, instituída em 2014 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), com uma campanha especial com o slogan "A DOR É SILENCIOSA - OUÇA. APOIE - Setembro Amarelo, em apoio àqueles que sofrem silenciosamente", onde irá disseminar informações, oferecer suporte e fortalecer a rede de apoio emocional.
Juntos, podemos fazer a diferença e garantir que a mensagem de esperança e solidariedade alcance todos que precisam.
Assessoria SindJustiçaRN, com Fenajud
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